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Mecanismos de Defesas, Hoje Mais do que Nunca. Conflitos Contemporâneos.

  • Foto do escritor: eduardomcmorais
    eduardomcmorais
  • 23 de abr.
  • 4 min de leitura

O psicanalista Jorge Forbes foi quem nomeou um fenômeno da pós modernidade de   “ o homem desbussolado”. Deu esse nome não para um sujeito especifico, mas para a sociedade como um todo, pois a pós modernidade trouxe junto com a tecnologia a quebra da verticalização social, onde o homem se espelhava na figura paterna e de conceitos hierárquicos para reger seu modo de vida.

    No contexto atual o sujeito se vê desorientado em relação a seus valores, vontades e propósitos, pois as referencias e os pilares que antes sustentavam a vida social e individual estão em constante transformação, muitos indivíduos experimentam uma sensação de fragmentação e perda de sentido da sua vida.

    Esse “desbussolamento” pode ser entendido como uma resposta ás rápidas mudanças culturais, tecnológicas e sociais que caracterizam a nossa era.  A saturação de informações, a busca incessantePor novas experiências, principalmente as prazerosas, e a pressão para se adaptar a um mundo em constante evolução, contribuem para essa sensação de desorientação. Além disso, a crise de valores e a pluralidade de identidades que surgem a todo momento nesse novo contexto dificultam a construção de um sentido de pertencimento e de auto-identidade.

Esse fenômeno contemporâneo mostra a incerteza e a fragilidade das referências em nossas vidas. A busca por novos significados em um mundo que cada vez mais se mostra como caótico e desconectado, apesar de toda a conectividade que a tecnologia proporciona. Dessa forma, a sociedade encara uma realidade complexa, com tensões contemporâneas e o desejo de encontrar novas formas de conviver.

As mídias sociais parecem então dar conta daquilo que falta ou carece em algumas pessoas: o pertencimento. Apesar das mídias desempenharem um papel crucial na construção de comunidades e no fortalecimento do sentido de pertencimento entre pessoas que compartilham interesses, experiências ou identidades similares, essa conexão pode ser extremamente valiosa para aqueles que se encontram isolados ou marginalizados em suas vidas cotidianas.

Entretanto, esse fenômeno também traz à tona um desafio significativo: a segmentação das discussões e a potencial estagnação do debate de ideias.

Quando indivíduos se agrupam em nichos específicos como segmentos sociais, étnicos, religiosos, políticos, etc., a diversidade de opiniões pode ser sufocada. As bolhas de filtro criadas pelos algoritmos das plataformas sociais tendem a mostrar aos usuários apenas conteúdos que reforçam suas crenças e valores, enquanto excluem vozes dissidentes. Isso está levando a uma polarização, onde as pessoas se tornam menos abertas a perspectivas diferentes e mais inclinadas à validação das próprias opiniões.

Numa época de “desbussolamento”, o homem tende a se agarrar ainda mais nos “dogmas” que lhe forem mais convenientes, pois a falta de um debate saudável e construtivo resulta numa visão de mundo limitada, dificultando o entendimento e a empatia entre diferentes grupos. Fica comprometida a diversidade de opiniões e pluralidade de ideias pela falta de diálogo e debate democrático, que gera respeito às diferenças.

Quando a polarização atinge níveis altos de intolerância, surge um novo fenômeno totalmente restrito às redes sociais: a “cultura do cancelamento”, que emerge como uma resposta a esse ambiente de tensão. A cultura do cancelamento refere-se ao ato de boicotar ou deslegitimar indivíduos, marcas ou empresas, que, pelo seu tribunal de regras próprias, julga e condena sem o devido direito de defesa.

Em um contexto tão polarizado como vivemos nos dias atuais, seria fundamental buscar formas de diálogo e empatia, promovendo a compreensão em vez de apontar o dedo, criar inimigos e destruir reputações.

Ao apontar o dedo e tentar silenciar vozes discordantes, essas pessoas não apenas negam a pluralidade de opiniões, mas também se colocam em uma posição de autoridade moral que, sem dúvida alguma, deve ser questionada. Essa dinâmica revela uma hipocrisia intrínseca: ao tentar combater discursos considerados nocivos, acabam reproduzindo práticas de exclusão, ou seja, promovem o cancelamento de dissidentes, muitas vezes expressando uma intolerância que, em essência, reflete a mesma intolerância que criticam.

Cabe aqui uma reflexão no âmbito da psicanálise... Estaremos vivendo dias em que nichos da sociedade defendem suas crenças com a estratégia que na psicanálise chamamos de “projeção” ou será apenas hipocrisia? Pois, em definição, como defesa do ego, a projeção se caracteriza por atacar outra pessoa para esconder seu próprio defeito. Essa defesa psicológica ocorre quando se atribui a outro seus próprios sentimentos ou comportamentos indesejados, evitando assim confrontar suas próprias falhas. Ela ocorre de forma inconsciente, permitindo que o indivíduo mantenha uma autoimagem mais favorável e evite o desconforto emocional.

A defesa do ego e a hipocrisia são conceitos distintos que se relacionam ao comportamento humano, mas têm motivações e implicações diferentes.

A hipocrisia, por outro lado, refere-se à prática de pregar valores ou comportamentos que a pessoa não realmente segue ou acredita.

Em resumo, enquanto a projeção é uma defesa psicológica que envolve a externalização de conflitos internos, a hipocrisia é uma prática desonesta que envolve a discrepância entre crenças e comportamentos.

 
 
 

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